segunda-feira, 29 de outubro de 2007

O lazer de cada um

Finalmente mudei, e agora para o MEU próprio cantinho... meu e de Olhos Verdes. Espero não ter de mudar de novo pelo menos nos próximos cinco anos, pois já é a sétima vez em nove anos! O bom é que muita coisa velha foi para o lixo, até caderno de faculdade eu tinha ainda. Aproveitei para me desfazer de roupas que não usava mais e de sons/móveis/utensílios desnecessários para o novo apartamento.

Separei umas coisas para a Verinha, minha diarista, e eu e Olhos Verdes combinamos de levá-las no sábado para a casa dela no Jardim Ângela. Quando falei para ela no dia anterior que iria até lá, não parou de repetir: "não acredito que você vai até minha casa, não acredito!". Ela ficou toda empolgada. Uma figura.

Fomos recebidos pela Vera com muita euforia! O marido e sua filha estavam em casa também. Ficamos até um pouco sem graça, porque somos pessoas totalmente sem frescuras, tratamos igualmente a todos sem distinção. Eu e Verinha, por exemplo, tomamos sempre café da manhã juntas, conversamos, choramos e rimos, enfim, temos uma amizade acima de tudo. Mesmo assim, acho que para eles um "patrão" visitar sua casa é uma realidade distante, infelizmente...

Ao entrar na casinha deles (casa própria), eu e Sé nos surpreendemos. Apesar de pequenina (composta por uma sala-cozinha, um banheiro e dois quartos), não faltaram fogão, geladeira, microondas, TV, aparelho de DVD, som com CD, computador, enfim, tudo novinho e de última geração! Até brinquei com a Vera: "Poxa, Verinha, por que você quis esse meu som velho, todo zoado? O seu é bem melhor do que o meu!" Ela caiu na risada.

Tomamos todos uma cervejinha e aproveitamos comer a galinhada que a Verinha fez: galinha cozida em molho suculento, com arroz, feijão de corda e salada... coisa mais deliciosa! Só não repeti para não ficar feio e, afinal de contas, havia muitas bocas a serem sustentadas ainda. Ficamos proseando por um tempão, vi álbuns e mais álbuns dos familiares, eles contaram sobre o Ceará. Aliás, o marido disse ter prometido mandar um aparelho de DVD para sua família em Fortaleza. Verinha irresignada: "O povo de lá mal tem o que comer e quer luxar às nossas custas! Vem para São Paulo trabalhar, oras!". Mas as famílias super se ajudam (tanto as que moram lá, como cá)... é super bonito de se ver.

Eu e Olhos Verdes saímos de lá muito contentes, contagiados pela alegria deles! Refletimos sobre todo o contexto, sobre o que é prioridade para eles e o que não é. Na casa da minha tia – que visitamos logo em seguida – a TV é de mil-novecentos-e-bolinha, o som é de LP e eles não têm aparelho de DVD. Por outro lado, e com todo suor, os três filhos foram – e um ainda é – educados em colégios particulares. No meu apartamento a TV não é das mais modernas, comprei aparelho de DVD há apenas um ano (né, Tatinha?! rs) e não tenho som, mas consegui pagar minha faculdade, tenho carro e tenho também, agora, um teto. Fora as viagens que faço, ainda que da forma mais econômica.

Pois é isso! Eles não têm como pagar um colégio para as crianças, eles não têm oportunidade de viajar para conhecer lugares, eles não têm condições de sair para tomar cervejinhas em botecos. O lazer deles é, sim, ver uma boa TV aos finais de semana, ouvir um bom som, curtir um DVD, tudo na casinha. Crescimento, para eles, nas palavras de Verinha, é sinônimo de luxar, é a compensação pelo trabalho penoso de cada dia. Não se tratam de prioridades equivocadas, mas sim do direito de se divertirem como podem! E que bom que na baderna que estamos vivendo hoje em dia ainda exista uma ponta de esperança, ainda existam pessoas que tenham entretenimento. Acima de tudo, pessoas que não passam fome e têm um lar para morar...